
Se não viveu isso ainda, certamente conhece alguém que passou madrugadas sem dormir estudando como louco, mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida. Mas chega a hora de decidir. E aí você decide e vai em frente...
Minha primeira “profissão” foi arqueologia. Depois cientista, veterinária, professora, artista de circo, missionária, médica... É sério, já quis ser tudo isso. Mas quando chegou a hora, optei pelo jornalismo. Na verdade queria ser contadora de histórias e o jornalismo era o que mais chegava perto disso. Alguém já disse que “embora nenhum de nós vá viver para sempre, as histórias conseguem”. Acreditando nisso, continuo escrevendo. E mesmo amando o que faço, ainda me pergunto como teria sido a vida no circo...
Meu irmão caçula – hoje maior que eu em tamanho e maturidade – vai prestar vestibular. Somos muito parecidos. E assim como eu, ele já "escolheu” dezenas de profissões. Ele tem apenas 18 anos. E eu pergunto: quem é que sabe o que quer da vida aos 18 anos? Se eu fosse prestar vestibular hoje, provavelmente sairia do cursinho, compraria uma barraca e iria morar na praia. Uma idéia um pouco romântica, é verdade. Mas ainda assim poderia continuar contando histórias...
Gosto de muitos escritores. Mas “paixão” mesmo, tenho por poucos. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretãs é uma dessas. Talvez você não a conheça por esse nome. Foi como Cora Coralina que essa goiana, uma autêntica contadora de histórias, ficou famosa. Cora só começou a escrever aos 14 anos, após completar apenas dois anos de escola primária – única escola que fez. Escreveu a vida toda, mas não foram seus poemas e dezenas histórias que me encantaram. Foi sua paixão pelo que fazia.
Cora escrevia sobre qualquer papel que lhe caísse às mãos: bordas de jornais, envelopes de cartas, cartões postais, papéis de embrulhar pão. Se tivesse tempo, passava a limpo. Caso contrário, ficavam por ali, esquecidos. Não escrevia para os outros. Escrevia apenas por paixão.
Hoje, enquanto meu irmão fazia sua inscrição para um dos muitos vestibulares que fará até o final do ano, fiquei pensando se ainda sou uma “contadora de histórias” ou se finalmente virei apenas jornalista. E mais uma vez me lembrei de Cora Coralina: faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir.
Cora morreu aos 96 anos em 1985. Lançou sete livros, o primeiro deles aos 75 anos. Meu irmão tem apenas 18 e muitos “poemas” para fazer. Num deles vai encontrar aquilo que faz tanta falta aos jovens de hoje. Paixão. Isso, faculdade nenhuma ensina...
Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso aos que têm sede.
*Aninha e suas pedras, de Cora Coralina (na foto) em outubro de 1981
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