“...porque o vôo já nasce dentro dos pássaros.
O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado”.
Rubem Alves
Quando o João nasceu foi uma festa. Papai dizia que ele era o homenzinho da casa. Mamãe dizia que ele era seu maior tesouro. E vovó dizia que ele era seu coração. E ele era mesmo tudo isso. E era também diferente de todas as outras crianças. O João não cresceu como os outros meninos - ele aprendia as coisas de um jeito diferente. Mas depois que aprendia, não esquecia nunca mais! Exemplo? João aprendeu a andar do seu jeito: um passo de cada vez, um passo por dia, 365 pequenos passos por ano... cada passo valendo uma corrida inteirinha prá gente! E quando finalmente todos os passos ficaram completos, os pés do João ganharam asas!
É sério! Eu descobri ainda menina que o João podia voar sobre as calçadas e avenidas. Corria tão rápido que nenhum outro menino o alcançava. Todo mundo dizia: “Parece que esse menino tem asas, minha gente!”. E ele tinha. E foi assim também quando ele aprendeu a falar. O João, que nunca falava nada, de repente sempre tinha alguma coisa para dizer. Parecia até que as palavras também tinham criado asas e iam saindo, uma depois da outra, ligeiras. Tinha dia que as palavras iam longe buscar respostas e quando voltavam da viagem, voltavam mais completas!
Eu cresci vendo o João ir cada vez mais longe e ensinando a gente a voar junto com ele. Mas ele voava melhor que todo mundo! E vez ou outra, quando ele queria voar sozinho, voava por histórias que só ele mesmo conhecia: histórias de princesas, príncipes, exércitos e dragões. Lugares tão distantes e tão incríveis, que só mesmo tendo asas para conhecer. E João era o menino que tinha asas. E ele voou tanto que quase todo mundo já tinha ouvido falar dele um dia. E todo mundo pensava: “como deve ser bom ter asas como o João”.
O que ninguém sabia é que o João não era diferente coisa nenhuma! Ele sabia que todo mundo podia ter asas - o problema é que nem todo mundo aprendia a voar. Acho que é por isso que meninos como ele existem: para mostrar aos outros meninos (aqueles que acham que não têm asas), que voar é mais fácil que parece. Aí hoje acordei pensando: deve ser por isso que o João resolveu não crescer, virar "gente grande". Para continuar voando por aí, contando suas histórias, falando aos quatro ventos, apostando corrida com os passarinhos...
De vez em quando a gente escuta alguém dizer: “você já viu aquele menino que tem asas?”. E então sabemos que o João passou por ali ensinando mais alguém a voar...
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Para o "meu Pequeno Jonh", que eu amo tanto... tanto! E que ama tanto sem pedir nada em troca.