26 agosto 2007

Caminhos me levem...

"...caminhos me levem aonde quizerem e se meus pés disserem que sim (...)


24 agosto 2007

Se não, não aprende

Eu amo milho verde: milho cozido com manteiga e sal, pamonha, cural, cuscuz, polenta... Quando éramos crianças e percebíamos lá em baixo, perto do curral, a plantação de milho verdinha ("embonecando") já sabíamos: era sinal que logo, logo ia ter mutirão para pamonha!
O serviço começava cedo e nós, mesmo pequenos, éramos peças fundamentais na "linha de produção": descascar e tirar o cabelo do milho. Era uma festa! Que só acabava quando aquele monte de milho já descascado ia para as mãos das mães, tias, avós e comadres que ralavam espiga por espiga até tirar aquele caldo amarelinho que mais tarde, já grosso e adoçado, seria a sobremesa de muitos dias.

O dia era longo. Enquanto ralavam o milho (e as pontas dos dedos...), muita conversa, cantoria e risadas tomavam conta do terreiro. A gente espiava tudo de longe, só esperando. De vez em quando um dos moleques passava ali por perto, aproveitava alguns sabugos para improvisar um brinquedo e conferia se ainda faltava muito para o milho virar doce.

No cardápio do almoço, claro, frango ao molho com milho verde feito na panela de ferro. Quem é da cidade e nunca comeu um franguinho feito na panela de ferro (ah sim, e no fogão a lenha!), não tem idéia como isso é bom! Tão bom quanto o cural que era servido como sobremesa: em pedaço ou molinho para comer com colher e canela... Meu Deus, não sei como a gente não ficava "amarelo" com tanto milho!

Mas a parte que eu mais gostava era quando, já com quase tudo pronto, minha avó explicava com toda a "ciência" de quem entende do assunto, como fazer aquela trouxinha que recebe o creme que depois de cozido, vai virar a tão esperada pamonha. Ela fazia aquilo com tanta facilidade! E eu tentava... Vichi! Como tentava. Mas mesmo com todo capricho, quando colocava o creme, sempre escapava um pouquinho aqui ou ali... E aí quando eu já estava desistindo e deixando a palha do lado, escutava a bronca carinhosa da Dona Maria: "Faz de novo! Se não, não aprende!". E aí, quando finalmente eu conseguia, ela fazia questão de cozinhar "minha pamonha" - que eu não perdia de vista nem um minuto! Só para depois comer (como dizia minha avó), com "gosto"...


Há dias que dá vontade de jogar tudo para cima e colocar a "palha" de lado. Quem é que nunca teve vontade de desistir? Aí hoje a tarde, quando fui desembrulhar a pamonha doce que comprei do seu Cecílio, lembrei da simplicidade e sabedoria da minha avó: "Faz de novo! Se não, não aprende!". Já pensou se eu desisto no meio do caminho e perco aquela delícia de pamonha? Hoje, já crescida, mesmo nos piores dias, fico ali insistindo com a "palha", até as mais complicadas. Porque no final, nossa... que gosto que dá!


Quebra de Milho
Renato Teixeira
Composição: Tom Andrade e Manuelito


Mês de agosto é tempo de queimada
Vou lá prá roça preparar o aceiro
(...)

Passou setembro, outubro já chegou
Já vejo o milho brotando no chão
Tapando a terra feito manto verde
Prá esperança do meu coração

(...)
Quando é chegado o tempo da colheita
Quebra de milho, grande mutirão
A vida veste sua roupa nova
Prá ir no baile lá no casarão...