Era uma vez um rio. E um menino. Mas a história não começa assim. Começa com o dia em que o tio chamou o menino para conhecer o rio.
Era um tio meio "torto" sabe? Amigo antigo do pai, estava sempre por perto com uma brincadeira nova para ensinar ou uma história para contar. O menino gostava um bocado deste tio. Verdade seja dita, gostava mais até do que os tios de verdade que estavam sempre com pressa e nunca entendiam o que menino dizia.
Mas eu estava contando sobre o dia em que o tal tio, chamou o tal menino para conhecer o tal rio.
Já era de noite. E a noite estava escura que só. O menino - que era um menino da cidade - sentiu uma pontinha de medo quando olhou para fora da casa e não viu nada, só escuridão. Foi aí que o tio chamou o menino e disse: "escuta...". E o menino escutou.
Ali, bem pertinho de onde ele estava, ouviu um barulho que nunca tinha ouvido antes. Era alto. Parecia um canto, um choro, um bicho. Ele apurou o ouvido tentando entender o que era aquilo. Sentia que se esticasse um pouquinho só a mão naquele negrume da noite, poderia até tocar aquilo que fazia tanto barulho. Mas o medo não deixava... Foi aí que o tio explicou que ali do lado, bem pertinho de onde eles estavam, passava o rio. E que no dia seguinte o menino, que não acreditava que um rio pudesse fazer tanto barulho, poderia ver de perto um "mundão de água danado".
Quando foi para a cama naquela noite o menino ficou pensando no rio. Ele conhecia outros rios, claro que conhecia. Mas nenhum que fizesse tanto barulho. E aí o menino dormiu ouvindo o barulho da água correndo ali do lado e quando acordou na manhã seguinte, mal conseguiu engolir o leite com café que a mãe tinha preparado para ele. Ele só conseguia pensar no rio e só de pensar dava um frio na barriga...
Ele correu para o quintal. E o rio estava ali. Ele era "enooooorme". Assim mesmo, com muitos "ós".
O menino tentou ficar na ponta do pé para ver direito, tentar olhar lá do outro lado. Mas a vista não alcançava. A água corria ligeira e vez ou outra ele forçava a vista para ter certeza que não tinha visto um "tubarão" passando ali.
O pai achou graça do espanto do menino; a mãe ficou preocupada com ele ali, tão pertinho da água. O que ninguém entendia era que o rio tinha ganhado o coração do menino. Ele, que já tinha ouvido tanto sobre o rio, não conseguia acreditar que ele podia ser tão maior, tão mais bonito do que ele imaginava...
Aí o menino cresceu. E um dia, sem avisar nem nada, ele sentiu como se o rio inundasse de novo o seu coração. O menino, que já era um homem, tinha ouvido tanto sobre o amor mas não conseguia acreditar. Era igual ao rio: maior e tão mais bonito do que ele imaginava...