23 novembro 2011

Em outras palavras

Durante muitos anos, embaixo de uma pilha de pastas, papéis, canetas nanquim e réguas de desenho, ficava escondido um dicionário de capa preta que meu pai usava. E ele usava bastante porque “às vezes as palavras que a gente acha que conhece nos surpreendem.

Eu acreditava nele. Por isso, enquanto meu pai desenhava e ouvia música, eu ficava por ali, sapeando... De vez em quando pegava o tal dicionário só prá dar uma espiada. E quando achava uma palavra engraçada ou bonita, anotava num caderno (que eu tenho até hoje) e tentava enfiar a bendita palavra de todo jeito nas redações da escola. Era divertido.

Lembrei disso ontem depois que uma amiga me indicou o Pequeno Dicionário de Palavras ao Vento, da Adriana Falcão. O livro é lindo e tem pequenas poesias como essa:

"Gente: carne, osso, alma e sentimento. Tudo isso ao mesmo tempo."

Aprendi um bocado de palavras diferentes no velho dicionário do Rubão. E aprendi também que às vezes, mesmo juntando um dicionário inteirinho, a gente não consegue explicar algumas coisas.

Aí eu tentei fazer igual ao Tião do Carro, “com palavras tão bonitas, caprichei bem na escrita”. Mas mesmo assim a explicação não saiu. Acho que é porque tem alguns tipos de felicidade que não tem palavra que explique. Tem ausência, que às vezes é tão grande, que só a palavra saudade parece ser pouca prá explicar. E vez ou outra aparece gente (de carne, osso, alma e sentimento) que nos deixa completamente sem palavras.
É este tipo de gente que faz o dia valer a pena! =)