23 junho 2007

Dona felicidade

Sua avó conhece. Sua mãe também. Sua vizinha, sua tia e você, com toda certeza, já ouviu falar do Baú da Felicidade. Como o próprio nome sugere, o Baú do Silvio Santos promete trazer felicidade para todos aqueles que estejam dispostos a pagar um pouquinho todo mês...

Não gosto de escrever sobre felicidade, tristeza, paixão... Aliás, não tenho muita paciência para ler coisas assim. Então se você quiser pular para o texto seguinte ou esperar pela próxima coluna tudo bem, vou entender.
Li hoje um artigo de um amigo muito querido. O título: “felicidade”. Só, mais nada. Em uma página ele fala sobre a felicidade – ou a falta dela. Como está com o “coração partido e como a felicidade é efêmera. Passei algum tempo pensando no texto. E aí resolvi escrever porque mesmo tendo tanto em comum e gostarmos de longas discussões, não conseguiria explicar meu conceito de felicidade para ele apenas falando. Aliás, “falar” sempre foi um problema para mim, escrever sempre foi mais fácil. Acho difícil explicar num artigo curto o que é ser feliz, mas vamos lá...

Fisiologicamente felicidade é a sensação causada ou espontânea. É um momento pelo qual passamos todos dos dias procurando repetir e mantê-lo o maior tempo possível presente. Li em uma entrevista que para um economista americano, felicidade é ganhar 20.000 dólares por ano, nem mais nem menos. Para os monges budistas, felicidade é a busca do desapego. Livros de auto-ajuda definem felicidade como “estar bem consigo mesmo”, “fazer o que se gosta” ou “ter coragem de sonhar alto”.
Segundo o artigo do meu amigo "felicidade é apenas um sentimento efêmero". Discorde se quiser, mas ser feliz para mim é achar a distância certa entre o que se tem e o que se quer ter. Demoramos muito para achar essa distância. Muita gente passa a vida inteira procurando. Muita gente morre sem encontrar. E aí quando acreditamos ter encontrado a tal “dona felicidade” pronto – não é preciso fazer mais nada...

Essa história de que tudo é possível desde que você “deseje de todo o coração” é pura balela (sim, eu também assistia à Xuxa quando era criança). Todos nós temos limitações e devemos sonhar de acordo com elas. Não me entenda mal. Acho que devemos (aliás, acho fundamental!) sonhar muito. Mas não dá para sonhar sem os pés no chão.
Por isso acredito que a felicidade é um processo. Não dá para ser feliz e pronto. Da mesma forma que não dá para ser infeliz para o resto da vida só porque as coisas não saíram exatamente como o esperado, conforme sonhamos.

Sabe o que é o mais legal disso tudo? Sempre dá para mudar o curso, mudar o caminho, começar de novo. E em cada recomeço desse dá para ser feliz demais – muito mais do que antes até! Mas para isso, assim como no Baú da Felicidade do Silvio, é preciso estar disposto a pagar um pouquinho pela “dona felicidade”. Ela não vem de graça meu amigo. Mas o preço que pagamos por ela vale a pena.
E como vale...


É para você meu amigo querido que dedico uma das músicas que mais gosto: Dona Felicidade (sem trocadilhos!). Olha como é simples: “se eu merecer, feliz vou ser pra eternidade”... Beijo para você!

21 junho 2007

Na toada da viola

A viola pode ser tocada em diferentes afinações e ritmos. Os mais conhecidos não o Cururu, ritmo básico da viola e bastante usado na música caipira. O Cateretê, que faz aquele rasqueado bonito. E a Toada, um dos ritmos mais bonitos da viola. Segundo o dicionário “toada” é o ato ou efeito de toar. “Toar” por sua vez é o mesmo que emitir som, fazer estrondo.

Temos verdadeiros clássicos tocados neste ritmo: Chico Mineiro, Cabocla Tereza, Pingo d’Água. Todas toadas tristes, cantadas e tocadas com uma dor que não se explica muito bem. Mas que se sente, se entende em cada nota da toada...

Quem não se lembra dos versos de Tristeza do Jeca: “Nesta viola, eu canto e gemo de verdade. Cada toada representa uma saudade”.

Nos últimos dias tenho pensando nas toadas da minha vida. Agora entendo Angelino de Oliveira: “cada toada representa uma saudade”. Sinto apenas não saber tocar nenhum instrumento em dias assim. Seria uma forma de colocar para fora tudo o que está preso aqui dentro e vai fazendo o dia perder a graça, a vida virar uma toada triste...

E aí para ajudar a saudade chega assim: mansa, circulando pelos cômodos, passeando nas varandas da alma... E se aloja no peito, muitas vezes sem pressa de ir embora. Fazendo mesmo uma toada danada dentro desse coração que já não agüenta mais tanto barulho...