06 julho 2008

Viver não dói


"Cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional."


Carlos Drummond de Andrade

03 maio 2008

Pétiuorqui

Outro dia uma colega de trabalho me contou que está aprendendo "patchwork". Demorei alguns minutos para repetir o tal "pétiuorqui" (é assim que se fala) e fiquei curiosa prá saber do que se tratava. Com essa mania besta de "expressões corporativas" (coaching, network, brainstorming, deadline e por aí vai...) achei que ela estava fazendo algum curso da empresa ou coisa assim. Espia isso! Ela está aprendendo emendar retalhos. É isso mesmo! Aquela técnica que nossas avós conheciam muito bem para fazer colchas de retalhos, agora chama "patchwork".

Não faz muito tempo, minha avó chegou em casa com uma colchas dessas. Feita sob medida prá mim: retalhos grandes, todos em tons verdes. A minha cara! Passei um bom tempo admirando a colcha estendida na cama. Um pedaço de pano grudado no outro, tecidos que antes não ficariam bem em lugar nenhum, juntos ali, costurados entre tantos outros, ficaram perfeitos. Eu nem conseguiria imaginá-los em outra composição.

Minha avó, depois de anos costurando, tricotando, crochetando, bordando... resolveu fazer colchas de retalho para a família inteira. Algumas são mais coloridas, outras mais sóbrias. Algumas têm os retalhos perfeitos, exatamente do mesmo tamanho. Em outras ela faz questão de deixá-los desorganizados, se encaixando de qualquer jeito.

Agora mesmo eu entrei no quarto e vi a colcha lá em cima da cama. Tira daqui, bota dali, costura, troca a linha... Me fala se não parece até o dia-a-dia da gente? Nem sempre as coisas combinam, nem sempre sai tudo do jeito que imaginamos. Mas se a gente tivesse um pouquinho de paciência para costurar os retalhos direito...

O problema é que o povo tem mania de complicar as coisas. "Patchwork". Vê se pode...



Colcha de Retalhos

Aquela colcha de retalhos que tu fizeste
Juntando pedaço em pedaço foi costurada
Serviu para nosso abrigo em nossa pobreza
Aquela colcha de retalhos está bem guardada
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim
Eu sei que hoje não te lembras dos dias amargos
Que junto de mim fizeste um lindo trabalho
E nessa sua vida elegre tens o que queres
Eu sei que esqueceste agora a colcha de retalhos
Agora na vida rica que estas vivendo
Terás como agasalho colcha de cetim
Mas quando chegar o frio no teu corpo enfermo
Tu hás de lembrar da colcha e também de mim

14 fevereiro 2008

Cai do céu...mas pode faltar!


“Tá achando que isso cai do céu, menina?”

Minha mãe tem umas frases prontas para reforçar suas opiniões - sejam quais forem - que são muitas engraçadas. “Cair do céu” era uma expressão já conhecida em casa, usada tanto para nos impedir de comer doce além da conta, quanto para indicar que o brinquedo que queríamos era caro demais. Era engraçado... É ainda. Tem outra que eu gosto: “tem dó né filha?”. Essa ótima, usada em diversas ocasiões também.

Bom, mas o fato é que estava lendo a Veja outro dia e dei de cara com uma matéria: “Cai do céu, mas pode faltar”. Pronto. Então a coisa é séria mesmo. É a mesma história da panela de doce: quando a gente vê aquele monte de doce pensa que não vai acabar nunca. Mas acaba gente... Ô se acaba!
Certo, então vamos lá... Não esperem nada comparado ao Greenpeace, mas começo hoje minha contribuição com a causa ambiental. Acho justo, já que todo mundo pode fazer alguma coisa. E já que estamos aqui oras... Não custa nada.
Pois muito bem, caso você não esteja com paciência agora para ler a matéria publicada pela revista Veja, é bom que saiba pelo menos que segundo a ONU, a escassez de água já tinge 2 milhões de pessoas. Esse número pode dobrar em menos de 20 anos.
Trocando em miúdos: essa prosa pode até não te interessar muito agora mas, considerando que o uso de água imprópria para o consumo humano é responsável por 60% dos doentes no mundo (por dia, 4 mil crianças morrem de doenças relacionadas à água, como a diarréia), isso pode fazer alguma diferença no seu dia-a-dia. Como diria minha mãe, “tem dó” né gente? Custa fechar a torneira para escovar os dentes e tomarum banho mais curtinho?


Já usei essa em outro artigo. Mas como trata-se do João Pacífico, vale a pena repetir!

Pingo D'Água
Composição: Raul Torres e João Pacífico

Eu fiz promessa
Pra que Deus mandasse chuva
Pra crescer a minha roça
E vingar a criação
Pois veio a seca
E matou meu cafezal
Matou todo o meu arroz
E secou meu argodão
Nesta colheita
Meu carro ficou parado
Minha boiada carreira
Quase morre sem pastar
Eu fiz promessa
Que o primeiro pingo d'água
Eu moiava a frô da santa
Que tava em frente do altar
Eu esperei
Uma sumana
Um mês inteiro
A roça tava tão seca
Dava pena a gente ver
Oiava o céu
Cada nuvem que passava
Eu da santa me alembrava
Pra promessa não esquecer
Em pouco tempo
A roça ficou viçosa
A criação já pastava
Floresceu meu cafezal
Fui na capela
E levei três pingo d'água
Um foi o pingo da chuva
Dois caiu do meu oiá

18 janeiro 2008

Saci não existe

Tenho um amigo que cria Saci. Verdade, moço! Aliás, a criação está grande já. De vez em quando escapa algum correndo atrás de um redemoinho e dá um trabalho danado. Só volta quando ameaça chover porque como todo mundo sabe, Saci tem medo d'água. 


Contei essa para uma amiga que não botou muita fé na história não. Mas esse negócio de criar Saci não é de agora. Há mais de 90 anos Monteiro Lobato lançou uma campanha no Estadão pedindo aos leitores que mandassem casos de aparições do Saci Pererê. Aliás, acho que Lobato foi o maior entendido em assuntos de Saci. Mas aí veio desmatamento, a luz elétrica clareando tudo (falei que eles também não gostam de claridade?) e o Saci foi entrando em extinção. 


Isso até a década de 80 quando o engenheiro paulista José Oswaldo Guimarães, lá de Botucatu, encontrou um criador de sacis em Itajubá, no sul de Minas. Guimarães gostou da idéia e levou um casal de Sacis para repovoar a mata de Botucatu. A criação ficou tão grande que o Guimarães precisou de ajuda. Por conta disso nasceu a "Associação Nacional dos Criadores de Saci" (ANCS).

Aí pronto! Danou a aparecer Saci em tudo quanto é lugar. Os Sacis (veja você que o assunto é sério!) foi objeto de estudos até de cientistas da UNESP e UNICAMP, que filiaram-se à ANCS e não pararam mais de pesquisar essa história. Você já deve ter visto o Guimarães por aí contando essa história no Jô Soares, no Fantástico, Globo Repórter... Até Dona Tereza, mãe do Guimarães, passou uma manhã com a Ana Maria Braga outro dia explicando como se prepara a Polenta do Saci.

Eu já vi um Saci. Uma vez só, rapidinho. Mas vi! O danado tem a pele escura e alguns podem chegar a um metro e meio de altura. Tem o cabelo tão vermelho, mas tão vermelho, que fica parecendo um gorro. Por isso esta história de que Saci usa gorro vermelho. Ah! E o cachimbo?! Na verdade aquilo é um pedaço de bambu que eles gostam de mastigar.

Eu, que quando era criança só conhecia o Saci do Sítio do Pica-Pau Amarelo e dos causos dos peões, gostei dessa história de criar Saci em casa. Ainda não comecei minha criação porque precisa espaço e um pouquinho de tempo. Mas se você também se interessou pelo assunto, em Rio Preto temos a "Saciação de Amigos e Criadores Interioranos de Sacis". E na internet tem um bocado de histórias para quem quiser saber mais. Mas já vou avisando: tome cuidado quando for procurar informações sobre o assunto. Quem conhece um pouquinho de Saci sabe que ele mexe em tudo! Esconde as coisas, aperta o tal do caps lock, o scroll lock, o F13... Quando a gente se dá conta, vichi! Mas espia lá... Vai que você também começa sua criação?


Grande Final
Gal Costa (Composição: Moraes Moreira)

Viver dá pé, dá pé viver
Pé de saci

Pererê, pererê, pererê, pererê
Viver dá pé, dá pé viver
Pé de saci
Pererê, pererê, pererê, pererê
Não nego a minha parte
Entrego a vida à arte
De ser feliz, de ser feliz
Na Terra ou em Marte
Em qualquer planeta
Qualquer país, qualquer país
Palavra de fé eu li
Cidade qualquer, nação, continente
Onde gente houver há de haver fé
Há de haver felicidade
Correr sim
E não correr do perigo
É sem fim
Eterno, moderno e antigo o amor
Ô ô ô ô ô
Eu vim
Pra fazer o carnaval, promessa
Fazer o grande final
Onde tudo de novo começa
Eu vim
Pra fazer o carnaval, promessa
Fazer o grande final
Onde tudo de novo começa
Viver dá pé, dá pé viver
Pé de saci
Pererê, pererê, pererê, pererê
Viver dá pé, dá pé viver
Pé de saci
Pererê, pererê, pererê, pererê...

16 janeiro 2008

Será que chove?

“Vô! Que horas são?”

Eu adorava perguntar isso quando era menina. Não que saber a hora certa me interessasse. O que eu adorava mesmo era ver meu avô olhando para o sol, com uma pose que, por alguns segundos, o fazia parecer um cientista (eu achava que isso era coisa só de cientista). Alguns segundos depois ele passava as mãos nos olhos ardidos e respondia.

Aí eu corria como louca para perto de quem estivesse com um relógio de pulso e confirmava: ele tinha acertado de novo. E tinha mais: o céu contava tudo para ele – se ia chover demais, se ia chover de menos, se a seca estava perto ou se no dia seguinte teríamos ventania... Não falhava nunca!
Aí ontem, quando saí do trabalho, parei rapidinho em uma banca de jornal que fica a caminho de casa. Sabe aquela conversa de quem está sem conversa? “Mas esse tempo tá maluco mesmo”, reclamou o japonês dono da banca. “De manhã tava bom, fresquinho. Aí veio um calorão e parece que já vai chover de novo”. Para não esticar muito a prosa eu respondi: “Mas essa época é de calor, verão é assim mesmo né?”. Achei que o assunto tinha encerrado. Mas o senhor que estava do lado entrou na conversa: “o inverno começa quando?”. Antes que desse tempo de responder o japonês se adiantou. “Inverno? Mas antes não tem outono? Ou é primavera?”.

Aí pronto... A conversa foi longe. Falaram das enchentes, do frio fora de época, da falta do frio, do calor e de mais calor ainda. Eu olhei para o sol que começava a sumir tentando imaginar que horas eram. E só fui embora depois de confirmarmos que estamos em pleno verão e o outono começará exatamente no dia 20 de março, às 2h48 (horário de Brasília!).

O japonês acertou: a noite choveu mesmo. Quando os pingos diminuíram consegui ver a lua rapidinho e lembrei do que escutava quando era criança: “lua cercada, terra molhada”. Acordei com o sol já alto, com cara de quem ia arder o dia inteiro. E fui de novo para o trabalho, torcendo para que chovesse mesmo. E para que o calor fosse calor, o frio fosse frio e que as Flores de Maio que minha mãe cultiva com tanto cuidado, este ano não se confundam novamente e floresçam em maio mesmo, e não em outubro, como na última vez...

Os Pingo da Chuva
Quando o céu estiver preto
e das nuvens até as sombras assombram
É só o reflexo do que está acontecendo
Só está faltando fósforo
Me dê aí!
Não esqueça que nesse momento
o vento sacode as árvores
e o clima que fica e o ar agitado
Dizendo tudo o que pode acontecer
Não escureça nem esquente a cabeça
Eu sei que você tem argumentos de querer
O sol pra pegar sua praia
pra bater sua bola
E a lua pra ver sua mina
ou só pra ir ali na esquina
Sem rima, sem rima!
Faça como eu que vou como estou
porque só o que pode acontecer
É os pingo da chuva me molhar!

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Para não perder as estações anote aí: o Outono começa no dia 20 de março às 02h48min; o Inverno no dia 20 de junho às 20h59min; a Primavera só chega no dia 22 de setembro às 12h44min e o próximo verão está longe... Só no dia 21 de dezembro, pertinho do natal.

14 janeiro 2008

Querer bem


Depois de ouvir mil tradutores em todo mundo, uma pesquisa britânica elegeu a palavra saudade como a sétima mais difícil do mundo para se traduzir. Explicar saudade é mesmo complicado... Mais fácil é sentir essa danada que no final das contas, apesar de judiar da gente, acaba servindo de inspiração.

"Para sempre é muito tempo. O tempo não pára!

Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."

Mário Quintana, jornalista e poeta brasileiro - 1906/ 1994


"Ouvi um sabiá cantando
Um canarinho também
Um cantava e outro respondia
Como é triste querer bem
Ai, ai, ai, ai, ai meu bem que dor,
Não posso viver alegre
Ausente do meu amor.

Que vida de um passarinho
Onde vai fazer seu ninho
Na mais alta laranjeira
No derradeiro galhinho
Ai, ai, ai, ai, ai meu bem que dor,
Não posso viver alegre
Ausente do meu amor.

A saudade é companheira
De um coração desprezado
Que vive sempre sozinho
Sem ter ninguém a seu lado
Ai, ai, ai, ai, ai meu bem que dor,
Não posso viver alegre
Ausente do meu amor"


Querer bem - Zico e Zeca

A foto acima, de Alfred Eisenstaedt, já virou clichê e há alguns anos disseram até que o fotógrafo teria forjado a cena. O que é verdade: o marinheiro e a enfermeira da Times Square viraram símbolo eterno do fim da guerra. Segundo conta a lenda, o casal – que na verdade não era um casal – protagonizou um dos beijos mais vistos da história quando ficaram sabendo da rendição dos japoneses e o final da II Guerra Mundial no dia 14 de Agosto de 1945. A foto foi publicada 13 dias depois na Life Magazine.

10 janeiro 2008

O Joelho Juvenal

Eu não lembro direito da melodia. Só lembro mesmo de um pedacinho da música que fala: "joelho ralado, é debaixo de chuva, é debaixo de sol, é no meio da lama". Lembro dessa parte porque era a parte que parecia comigo: joelho ralado. Ou, para quem preferir, "escalavrado"...

 Aprendi esse palavrão aos 9 anos por causa de um joelho. Não por causa do meu, mas por causa do Juvenal -
O Joelho Juvenal. "Juvenal tinha um problema, coitado: vivia todo escalavrado". Quando eu conheci o Juvenal a gente se parecia bastante. "O Juvenal gostava muito da vida, do vento ventando nele". E eu gostava de chuva, de sol e de lama.

 Aí outro dia, conversa vai, conversa vem, o Juvenal apareceu no meio da prosa. Outra pessoa que conhecia o Juvenal! Impressionante... Tudo bem que a gente se dá bem, gosta das mesmas coisas, mas ele conhecer o Juvenal, por essa eu não esperava...


 Falar do Juvenal me deu saudade daquela época de
"short, calção ou calça curta", que deixavam a gente correr todo feliz pelo mundo. Mas até o Juvenal teve que ceder e aceitar a calça cumprida. E ele tentou perguntar: "que tal criar um modelo de calça prá ver a vida?". Enquanto não criam, a gente fica aqui, com coração "escalavrado" de saudade daquele tempo em que um pouco de chuva, de sol e de lama, bastavam para deixar a tarde perfeita...

*Para o Príncipe dos Gauleses, que também conheceu o Juvenal e hoje me faz feliz mesmo sem ter chuva, sol ou lama por perto
=)

09 janeiro 2008

Prá cantá cum São Gonçalo

Se o Seo Tião fosse vivo, estaria fazendo festa agora. Janeiro é o mês de São Gonçalo, o protetor dos violeiros! Claro, lembrei do meu avô, que era devoto do Santo e não perdia uma Festa de São Gonçalo. Para ele (que gostava da história), aqui vai um poquinho deste violeiro "santo".
Existem pelo menos três histórias diferentes sobre a vida deste frade português. Apesar de diferentes, todas concordam em uma coisa: São Gonçalo tocava viola como ninguém! E contam ainda que o santo é casamenteiro - um Santo Antônio violeiro, espia só!
Em janeiro as festas de São Gonçalo tomam conta de várias regiões do Brasil. O ponto alto da festa é a dança de São Gonçalo, realizada em frente ao altar. Dois violeiros ficam entre duas filas de dançarinos: uma de homens, outra de mulheres, lado a lado. Cada região tem sua maneira de dançar, mas sempre tem o sapateado. Aí, depois que cada par finaliza o sapateado, fazem o "beijamento". É isso mesmo que você entendeu: vão beijar o altar, o santo ou as fitas coloridas que estão nele amarradas.
É nesta hora que muitas moças aproveitam para amarrar uma fita para o Santo - um "presentinho" antes do casamento sabe? A fita desta promessa é sempre branca. Só as mulheres casadas que querem fazer um agradecimento ao santo, amarram fitas coloridas.

Das festas de São Gonçalo que o Seo Tião participava, ficaram mesmo só os versinhos:

"São Gonçalo do Amarante
Casamenteiro das moça
Casa a mim primeiro
Para então casá as outra”

"Quando fô pra mim morrê
Eu queru faze um aviso
Incordá minha viola
Com as corda que fô preciso
Pra cantá cum São Gonçalo
E os anjo no paraíso"

O violeiro Paulo Freire dedicou um de seus discos ao padroeiro dos violeiros (que também é considerado o santo da fertilidade e protetor das prostitutas) que conta com a participação de Mônica Salmaso, Wandi Doratioto, Benjamin Taubkin e Toninho Ferragutti. Apesar do CD estar esgotado e sem previsão de relançamento pela gravadora, ainda pode ser encontrado rodando pelo mundo da internet. Vale mesmo a pena conferir!


REVIVA SÃO GONÇALO
De Roberto Corrêa ao amigo violeiro Paulo Freire

Nos pés, cravados na pele, espinhos de flor
o instinto, no enleio da dança, vencido na dor
nas mãos, o toque do violeiro cantador
tiranas, canções de gesta, cantigas de amor.
Viva viva São Gonçalo
reviva São Gonçalim
na dança do entrançado
jornada do trancelim.
São Gonçalo violeiro
é tão triste o meu viver
eu aqui vivo banzeiro
sem ninguém pra me querer.
São Gonçalo do Amarante
seja lá de onde for
tire logo este quebranteque é pr'eu ter um novo amor.

03 janeiro 2008

Aparentados

Pedro Nava era mineiro. Era médico também. E era escritor. Li em algum lugar que Drummond disse que Nava "possuía a capacidade de transformar em palavras o mundo feito de acontecimentos"...

Aí ontem, fazendo aquela tradicional faxina de começo de ano, achei um texto perdido na pilha de papéis que vou juntando a cada semana. Era do próprio Pedro Nava afirmando: "aparentar-se pelo coração é ser amigo". Diga você: quantos aparentados descobriu no ano que passou?

Minha família é gigantesca. Ponto. Nem precisava falar mais nada. Família grande é sempre a mesma coisa: presentes perdidos e esquecidos no final do ano, um milhão de casamentos de primos-dos-tios-dos-irmãos-da-sua-avó, 30 aniversários para lembrar todos os meses, conselho familiar a cada problema, telefonemas de madrugada para contar o que aconteceu ontem na casa da sua tia... A gente não escolhe quem vai ser nosso primo, tio, cunhado... Mas esse povo todo entra na vida da gente e ocupa um espaço tão grande e tão especial que meu Deus! Mesmo com essa confusão toda a gente não consegue viver sem eles.

E mesmo com tanta gente, ainda arrumamos tempo e espaço para "nos aparentar pelo coração". Isso porque tem um tipo de parente que a gente escolhe sim! Aqueles para quem podemos ligar a qualquer momento, qualquer dia (ou madrugada). Gente que ri junto com a gente, chora, critica... São aqueles que não se importam de nos ver aparecer de chinelo de dedo ou roupão. Que brigam, discutem, ficam bravos e aparecem logo depois, sem explicação nem nada. Aqueles que amam e estão por perto mesmo quando estamos cansados, irritados ou quando perdemos a razão (e às vezes tudo isso junto!).

Hoje, talvez pelo clima de natal que ainda sobrou, talvez por conta desse sentimento que as coisas acabam mudando depois de virar a última folha do calendário... Sei lá porquê! O fato é que hoje percebi, mais do que nunca, como esses "aparentados por coração" são realmente incríveis.

*Tem muita gente que merecia ter o nome aqui. Mas esta merece "mesmo": obrigada por tudo Thá! Nem precisava dizer, mas você é, com toda certeza, uma "irmã-aparentada-pelo-coração". Te amo!