09 maio 2010

20 minutos

Quando eu entrei na adolescência minha Mãe voltou a trabalhar e estudar. Houve um período em que a gente se via muito pouco - eu ia para a escola logo cedo e quando voltava ela já tinha ido para o trabalho. Quando ela chegava em casa, já de noitinha, minha Mãe tinha apenas 20 minutos para tomar um banho e ir para escola.

Neste horário eu corria para o quarto dela e ficava sentada no chão. Foi um ano inteiro assim, medido em 20 minutos diários só nossos. Parece pouco para quem está de longe. Mas aqueles 20 minutos foram responsáveis por tudo o que eu fui nos anos seguintes.

Enquanto ela arrumava o cabelo e escolhia o perfume - que ela não sai de casa sem de jeito nenhum - a Dona Dirla ia me explicando sobre amor, sobre respeito, sobre carinho. Eu aprendi a ser mulher de verdade ali, enquanto eu contava os minutos e minha Mãe contava um pouco da vida dela.

Nos últimos anos a gente tenta encurtar a distância usando o telefone e a internet. Mas hoje, Dia das Mães, o que eu queria mesmo era ter de novo aqueles 20 minutos prá ficar sentada bem pertinho dela. É como diz a música:
"eu sei não sou nada sem sua proteção".

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♫♪ Revi na parede um rosto traçado que a tempos passados ieu fiz de carvão
O tempo e a chuva molhou o reboque que fez o retoque com tal perfeição
Me fez eu criança envolto na manta no colo da santa seguro em tuas mãos
Seus olhos estavam radiantes de brilho segurando o filho e dando a benção
Fechei os meus olhos rezei para ela pintada na tela da minha ilusão
Mãezinha querida meu grande tesouro você é de ouro e não de carvão
No mundo onde ando de loucas estradas eu sei não sou nada sem sua proteção ♫♪

27 abril 2010

Rio de Lágrimas

"Lá no bairro onde eu moro
Só existe uma nascente
A nascente é dos meus olhos
Já formou água corrente
Pertinho da minha casa
Já virou uma lagoa
Com lágrimas dos meus olhos
Por causa de uma pessoa"

Composição: Tião Carreiro / Lourival dos Santos / Piraci

O menino e o rio

Era uma vez um rio. E um menino. Mas a história não começa assim. Começa com o dia em que o tio chamou o menino para conhecer o rio.

Era um tio meio "torto" sabe? Amigo antigo do pai, estava sempre por perto com uma brincadeira nova para ensinar ou uma história para contar. O menino gostava um bocado deste tio. Verdade seja dita, gostava mais até do que os tios de verdade que estavam sempre com pressa e nunca entendiam o que menino dizia.

Mas eu estava contando sobre o dia em que o tal tio, chamou o tal menino para conhecer o tal rio.

Já era de noite. E a noite estava escura que só. O menino - que era um menino da cidade - sentiu uma pontinha de medo quando olhou para fora da casa e não viu nada, só escuridão. Foi aí que o tio chamou o menino e disse: "escuta...". E o menino escutou.

Ali, bem pertinho de onde ele estava, ouviu um barulho que nunca tinha ouvido antes. Era alto. Parecia um canto, um choro, um bicho. Ele apurou o ouvido tentando entender o que era aquilo. Sentia que se esticasse um pouquinho só a mão naquele negrume da noite, poderia até tocar aquilo que fazia tanto barulho. Mas o medo não deixava... Foi aí que o tio explicou que ali do lado, bem pertinho de onde eles estavam, passava o rio. E que no dia seguinte o menino, que não acreditava que um rio pudesse fazer tanto barulho, poderia ver de perto um "mundão de água danado".

Quando foi para a cama naquela noite o menino ficou pensando no rio. Ele conhecia outros rios, claro que conhecia. Mas nenhum que fizesse tanto barulho. E aí o menino dormiu ouvindo o barulho da água correndo ali do lado e quando acordou na manhã seguinte, mal conseguiu engolir o leite com café que a mãe tinha preparado para ele. Ele só conseguia pensar no rio e só de pensar dava um frio na barriga...

Ele correu para o quintal. E o rio estava ali. Ele era "enooooorme". Assim mesmo, com muitos "ós".

O menino tentou ficar na ponta do pé para ver direito, tentar olhar lá do outro lado. Mas a vista não alcançava. A água corria ligeira e vez ou outra ele forçava a vista para ter certeza que não tinha visto um "tubarão" passando ali.

O pai achou graça do espanto do menino; a mãe ficou preocupada com ele ali, tão pertinho da água. O que ninguém entendia era que o rio tinha ganhado o coração do menino. Ele, que já tinha ouvido tanto sobre o rio, não conseguia acreditar que ele podia ser tão maior, tão mais bonito do que ele imaginava...

Aí o menino cresceu. E um dia, sem avisar nem nada, ele sentiu como se o rio inundasse de novo o seu coração. O menino, que já era um homem, tinha ouvido tanto sobre o amor mas não conseguia acreditar. Era igual ao rio: maior e tão mais bonito do que ele imaginava...

18 abril 2010

A tecnologia do abraço



Quem me enviou esta brilhante explanação sobre a "tecnologia do abraço" foi meu pai, o Rubão - que já apareceu por aqui outras vezes. O texto delicado e cheio de graça é do violeiro Ramiro Viola. Vale a pena ler e passar prá frente. Até porque, tem muito entendido "de tecnologia" por aí que ainda não aprendeu isso não...


A TECNOLOGIA DO ABRAÇO
*Por um matuto mineiro

O matuto falava tão calmamente, que parecia medir, analisar e meditar sobre cada palavra que dizia.

- É... das invenção dos homi, a que mais tem sintido é o abraço. O abraço num tem jeito di um só aproveitá! Tudo quanto é gente, no abraço, participa uma beradinha... Quandu ocê tá danado de sodade, o abraço de arguém ti alivia. Quandu ocê tá cum muita reiva, vem um, te abraça e ocê fica até sem graça de continuá cum reiva.

Si ocê tá feliz e abraça arguém, esse arguém pega um poquim da sua alegria... Si arguém tá duente, quandu ocê abraça ele, ele começa a miorá, i ocê miora junto tamém. Muita gente importante e letrado já tentô dá um jeito de sabê purquê qui é, qui o abraço tem tanta tequilonogia, mas ninguém inda discubriu. Mas, iêu sei! Foi um ispirto bão de Deus qui mi contô iêu vô contá procêis u qui foi quel mi falô:
o abraço é bão pur causa do coração!

Quandu ocê abraça arguém, fais massarge no coração! I o coração do ôtro é massargiado tamém! Mas num é só isso, não! Aqui tá a chave do maió segredo de tudo: é qui quandu nóis abraça arguém, nóis fica cum dois coração no peito!

***

Brilhante não? Mais um pouquinho da sabedoria caipira...
Então, um abraço procês tudo minha gente!

23 fevereiro 2010

A arte de Inezita Barroso

Ao contrário do que dizem por aí, meu ano não esperou pelo Carnaval prá começar. Aliás, começou faz tempo! Por isso mesmo tem sobrado pouco tempo para passar por aqui.

Mas encontrei um bom motivo para arrumar cinco minutos! Achei hoje um d
ocumentário musical produzido em 2009 pela TV Cultura com participações de Sérgio Reis, Renato Teixeira, Roberto Corrêa, Renato Braz, Tetê Espíndola, Daniela Lasalvia. O título: A Arte de Inezita Barroso.

Assistam tudo, vale a pena!