19 março 2011

Fogo, fome e alegria

Eu sou péssima na cozinha. Me viro bem com frases, pontos e vírgulas. Mas com panelas... vichi! Vez ou outra eu arrisco. E vez ou outra sai alguma coisa boa. Mesmo assim a cozinha é um dos lugares que eu mais gosto na minha casa. É de longe o cômodo que eu passo menos tempo, mas quando a casa esta cheia de gente, a cozinha é sem dúvida alguma o lugar mais disputado. Segundo o Rubem Alves, na cozinha “a gente é a gente mesmo: fogo, fome e alegria” (eu adoro esta frase!).

Lá de onde eu venho o pessoal tem um costume engraçado: ninguém convida um amigo ou um casal para jantar – convida para cozinhar. O negócio funciona assim: o pessoal chega cedo em casa. Enquanto alguém corta a cebola e o cheiro-verde bem miudinho, outro vai lavando o tomate e o arroz, temperando a carne, esquentando o forno. Aí um lembra um causo, outro retruca, alguém dá risada, tira o menino de perto do fogão... É só “uma janta”, mas parece uma festa.

Nos últimos dias estou vivendo uma paixão tardia pelo João Guimarães Rosa. E aí ontem de madrugada, enquanto esperava o sono, eu li: “a coisa não está nem na partida e nem na chegada, mas na travessia”. E não é? Olha só: eu odeio comer sozinha. Por isso não perco muito tempo cozinhando, não. Porque comer é a chegada – passa rapidinho! Mas quando existe um motivo para eu agradar alguém, não me importo em ir para a cozinha (mesmo quando o prato não dá certo! rs). Porque a travessia é longa e é a parte mais gostosa da “coisa”. É onde “a gente é a gente mesmo: fogo, fome e alegria”. Então é isso... viver a travessia. Dá trabalho. Mas é bom demais da conta, não? =)

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Não sou exatamente a maior fã do Gil. Mas acho essa música linda... E nem podia escolher outra hoje porque eu acho mesmo que "toda casinha feliz ainda cozinha no fogão de lenha..."

Casinha Feliz
Gilberto Gil

Onde resiste o sertão
Toda casinha feliz
Ainda é vizinha de um riacho
Ainda tem seu pé de caramanchão

Onde resiste o sertão
Toda casinha feliz
Ainda cozinha no fogão de lenha
Ou fogareiro de carvão

De dia, Diadorim
De noite, estrela sem fim
É o Grande Sertão: Veredas
Reino da Jabuticaba
As minas de Guimarães Rosa
De ouro que não se acaba

Onde resiste o sertão
Toda casinha é feliz
Porque à tardinha tem Ave Maria
E o beijo da solidão

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