19 outubro 2006

Fim de ano e fim do mundo

...e a transformação da face do mundo é como a transformação da cara da gente, que muda tanto durante toda a vida – mas que, dia a dia, de ontem para hoje, de hoje para amanhã, sempre nos parece a mesma cara no espelho. (Mário Quintana)

Dá uma olhada aí no seu calendário. Olhou? Viu mesmo?
É isso aí, faltam menos de dois meses para o natal. dois meses! Vou te falar uma coisa, eu não sei de você, mas eu não vi o ano passar. Neste exato momento, estou aqui tentando lembrar o que é que eu fiz, o que ocupou tanto meu tempo que fez 2006 simplesmente... passar.

Aí lembrei de Hemingway. Ele não era caipira – nem brasileiro – mas foi um grande escritor. Acho que foi ele quem disse que devemos olhar as coisas como se fosse pela última vez – ou primeira? Não importa, o importante é o olhar. Foi isso que aconteceu com meu ano: eu não olhei prá ele.

To falando de olhar mesmo, ver, perceber. Todos os dias a gente acaba fazendo quase tudo igual – como na música de Chico Buarque – e o que vemos todo dia vira, sei lá... nada? Quer um exemplo: você faz todo dia o mesmo caminho para o trabalho. De tanto ver o mesmo caminho, chega uma hora que não vê mais. Agora imagina quanta coisa eu não vi esse ano!

E sabe aquele moço que todo dia você encontra no caminho para o trabalho? Se a partir de amanhã ele não cruzar mais o seu caminho, você não vai poder dizer que realmente via ele todos os dias. Você nunca perguntou o nome dele, onde mora, o que faz... Não viu nada disso. E agora, não vai ver mesmo... E aí outro ano vai passar e você vai fazer como eu – vai ficar repetindo essa frase batida de fim de ano: “o ano passou e eu nem vi”.

Falando de fim de ano, lembrei de uma música do Rolando Boldrin, um dos meus compositores preferidos: a moda do fim do mundo, uma versão engraçada do que dois compadres fariam com o pouquinho de tempo que sobraria nessa hora. A letra é uma parceria do Boldrim com Tom Zé e Svaniek (prá provar que “intelectuais” - ou os que se acham intelectuais - também gostam de música caipira!).


A Moda do Fim do Mundo

Cumpadi em Brasília, espaiaram
Um boato muito chato
Que o mundo vai se acabar

Vancê fique de oreia no rádio
Vancê fique de oio no jorná
Porque, vou te contar,
No dia que o mundo se acabá
Nesse dia a gente tem que resolver
Que nós temo que esconder
Aquele galo bolinha
Prá dispois do fim do mundo a gente ter
Um macho prás galinha,

Cumpadi também temo que esconder
Aquele touro garanhão,
Grandão e arruaceiro
Prá dispois no fim do mundo a gente ter
O bicho que sabe fazer bezerro,

Vancê fique de oreia no rádio...

Cumpadi pense bem no dia “d”
Que porva vai garrá fedê
E tudo nóis vira mingau
Prá dispois do fim do mundo a gente ter
Um casal do bicho que faz miau,

Cumpadi também temo que alembrar
E a sete chave nós guardar
O cachorro e a cachorra
Prá dispois do fim do mundo a gente ter
Que evitar que a raça morra

Vancê fique de oreia no rádio...

Cumpadi acabei de me alembrar,
Que o jegue irará
Também temo que esconder
Prá dispois do fim do mundo a jega ter
Um jegue prá lhe comer

Cumpadi sabe que na afobação
A gente quase se esqueceu
De guardar uma comadre
Prá dispois do fim do mundo a gente ter
Um pecadinho prá confessar com o padre

Um comentário:

  1. Ei Flaviana, recomendo aquele livro lá que falei...rs...e tb achei que o ano passou muito rápido apesar de não me lembrar direito do começo do ano...acho que apenas deixei a vida passar, por isso não me lembro tanto desse começo de ano, ao contrário de fases mais remotas da minha vida que me lembro com detalhes. Vou procurar viver realmente esse restinho de ano e o ano que vem...depois te conto...rs....bjos

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