21 outubro 2006

Tio Pedro e a Maria Louca
























Quando eu era criança, morava em Caçú, interior de Goiás. Tinha 7, 8 anos, quando conheci o Tio Pedro e a Maria Louca. Como toda cidade pequena, Caçú tinha seus “personagens folclóricos”, e essa dupla era famosa, principalmente entre as crianças.

O tio Pedro já era um senhor de idade, maltratado pela vida e muito mal humorado. Algumas crianças tinham medo dele. Já eu, que tive a sorte de ter em casa dois educadores de peso, gostava do tio Pedro... Ele morava de favor em várias casas, era meio andarilho. De vez em quando sumia, voltava de novo. Uma vez apanhei na escola porque briguei com um menino que estava jogando pedras nele. Nunca contei isso pra minha mãe. Bom, agora ela sabe... Nunca mais tive notícias do tio Pedro que hoje já não deve estar mais por aqui.

E a Maria Louca? Bom, como o próprio apelido sugere, ela também dava um pouco de trabalho. Andava pela cidade vestindo uma peça de roupa em cima da outra, com sacos pendurados nas costas, gritando com a molecada, xingando um ou outro... Quando a gente não queria dormir os mais velhos ameaçavam: “vou chamar a Maria Louca, a Mulher do Saco...”.

Mas isso já faz muito tempo. Essas duas figuras que marcaram minha infância, provavelmente já foram para um lugar bem melhor. Não conheço a história deles. Sei apenas que eles ajudaram a construir um pedacinho da minha.

Na semana passada finalmente concretizei uma vontade antiga: fui para São Paulo para "conhecer" São Paulo. Fiz um mapa dos lugares que queria ver de perto e a cada parada, eu não sabia se me impressionava com a beleza dos lugares ou a quantidade de marias loucas e pedros que eu encontrava no caminho. Exatamente iguais.

Um dos lugares que mais me impressionou foi a Igreja da Sé. A igreja estava praticamente vazia, mas na escadaria, enquanto subíamos aqueles degraus que pareciam não ter fim, quanta gente meu Deus! Deitados, sentados, alguns dormindo enrolados em cobertores. Todos do lado de “fora” da igreja.

Em nosso último dia na cidade, encontramos um casal de violeiros tocando e cantando na praça da Pinacoteca. Velhinhos já. Fiquei ali, assuntando. No meio da cantoria, o violeiro parou, olhou pra gente e soltou essa: “to aqui cantando, mas to vendo tudo!”. E voltou a cantar...

E eu? Eu voltei pra casa pensando, até quando vamos conseguir ir levando a vidinha da gente e não fazer nada? Semana que vem tem eleição – e detesto discutir política, mas vá lá... É fácil demais apertar dois números na urna e pronto. Mas e depois, como é que fica? A gente volta pra casa, continua não fazendo nada e espera por mais quatro anos, torcendo pra desta vez dar certo?

E depois dizem que o Tio Pedro e a Maria Louca é que eram estranhos... Pior somos você e eu. Dois malucos de verdade!

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