11 fevereiro 2011

Tocando saudade...

Quando chegava o final do dia, ele sentava na beirada do banco de madeira no canto do alpendre e ficava ali, olhando o céu passar do azul para o cor-de-rosa, anil, púrpura... Era uma confusão de cores. Todo dia o céu dava um show diferente. E todo dia ele ficava ali até o céu escurecer de vez.

Enquanto a noite ia roubando a luz do dia, o peito do caboclo ia ficando apertado. Quase não deixava o pobre respirar. O coração parecia que dava um nó, a barriga ficava esquisita. E aquela coisa estranha na garganta, uma vontade de não sei o quê...

Toda noite era assim. A luz amarela do lampião parecia alumiar a solidão do caipira, que só fazia lembrar da sua cabocla. Quanto tempo fazia ele nem lembrava mais. Dizem que a saudade faz as coisas pararem no tempo. E quando a saudade já não cabia mais na cama ele levantava, pegava a violinha e ia para o terreiro tocar sua paixão. O ponteio da viola tomava conta da noite e invadia a madrugada. E ele tocava.

Cada toque era uma saudade. Saudade do abraço que encaixava no seu peito. Saudade do pé dela procurando enroscar no seu enquanto dormia. Do cheiro que ficava na cama quando ela levantava. Das roupas penduradas pela casa. Saudade da voz, da risada, do colo que agora ele sabia, era seu lugar preferido no mundo inteiro. E do beijo. Moço... Quanta saudade...

A viola chorava pedindo prá chegar logo o dia. E quando o céu ia clareando, a saudade não diminuía. Só ficava escondida, como a escuridão da noite. E voltava no final da tarde quando começava de novo a confusão no céu e no coração do caipira. "Vai saber...", pensava ele. "Uma hora a felicidade volta...". E enquanto esperava ele tocava. Tocava toda sua saudade...

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