18 fevereiro 2011

Só acaba quando acaba

Meu avô era violeiro e devoto de São Gonçalo. E “viajou fora do combinado” – como dizem os caipiras – há alguns anos, deixando muita saudade e uma história que eu adoro contar... Aí hoje, na fila do banco, escutei uma senhora dizendo: "só acaba quando acaba". Pronto! Era a deixa que eu precisava prá contar esta história que eu ouvi um bocado de vezes e não canso de passar prá frente! =)

Minha avó, dona Orlanda, era noiva. Morava em uma colônia, no interior de São Paulo, onde ajudava os pais na colheita de café. Meu avô? Bom, meu avô - o seo Tião - era como se diz no interior... um pouco “vida torta”. Tocava nos bailes da região, viajava pra lá e pra cá e tinha dois olhos azuis “que ninguém tinha igual” (palavras da dona Orlanda!).

Na primeira vez que se viram minha avó tinha apenas 13 anos. Meu avô, ao lado de um caixeiro-viajante, visitava as fazendas oferecendo serviços de conserto. Pelo destino ou pelo acaso, bem naquele dia a máquina de costura estava quebrada... De longe, um ficou espiando o outro pelo canto do olho. Mas foi coisa ligeira! Os dois só se encontraram novamente seis anos depois, num baile de São João. Ele tocava. Ela dançava com o Eduardo, o noivo. Vou encurtar a história – já que você deve ter adivinhado o final. Poucos meses depois o violeiro e a dona Orlanda se casaram. Tiveram cinco filhos, onze netos e dois bisnetos (por enquanto!).

"Só acaba quando acaba". E não é? Pense: há 50 anos noivado era coisa séria. Quem adivinharia que a dona Orlanda e o tal Eduardo não se casariam? E quem diria que o seo Tião ia abandonar a estrada e a vida de violeiro prá fincar raízes ali, no coração da minha avó?
Agora me diz: como é que a gente pode ter tanta certeza do fim da história se às vezes ela só tá começando? Eita mania de complicar as coisas... Eu ainda concordo com a Inezita: "complicar é sair da gente"...

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Prá fechar a semana, um trechinho de Com amor não se brinca, de Cascatinha e Inhana, em homenagem ao violeiro Tião Freire e a dona Orlanda que mesmo depois de 57 anos juntos, só andavam de mãos dadas e ainda sentiam ciúme um do outro.


"Quem tem alegria, de noite e de dia
Quem não sofreu, meu senhor,
Não sabe nada do amor!
O amor é danado, não escapa ninguém
Vem mascarado e nunca avisa quando vem

Ai, meu senhor, com o amor não se deve brincar não
Ai, meu senhor, eu fui brincar machuquei meu coração"

2 comentários:

  1. Luciana Elias18 fevereiro, 2011

    "viajou fora do combinado"...assim que gostaria que tratassem meu embarque no O Trem Das 7

    O Trem Das 7
    (Raul Seixas)
    Ói, ói o trem, vem surgindo de trás das montanhas azuis, olha o trem
    Ói, ói o trem, vem trazendo de longe as cinzas do velho éon

    Ói, já é vem, fumegando, apitando, chamando os que sabem do trem
    Ói, é o trem, não precisa passagem nem mesmo bagagem no trem

    Quem vai chorar, quem vai sorrir ?
    Quem vai ficar, quem vai partir ?
    Pois o trem está chegando, tá chegando na estação
    É o trem das sete horas, é o último do sertão, do sertão

    Ói, olhe o céu, já não é o mesmo céu que você conheceu, não é mais
    Vê, ói que céu, é um céu carregado e rajado, suspenso no ar

    Vê, é o sinal, é o sinal das trombetas, dos anjos e dos guardiões
    Ói, lá vem Deus, deslizando no céu entre brumas de mil megatons

    Ói, olhe o mal, vem de braços e abraços com o bem num romance astral

    Amém."

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  2. Fê Malagueta!18 fevereiro, 2011

    Adorei seu blog...
    Sabe conheço muita gente da 'capital', e sempre acabam me perguntando de onde sou... e nessa hora que eu encho o peito e digo "sou do interior de são paulo, sou caipira e gosto muito!"
    seu blog mostrou como é bom ser o que somos! parabéns!

    inté

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