08 dezembro 2006

O mago da viola

Apenas dez dedos... mas pareciam milhares

Numa época em que se fala tanto de magos – que vendem milhares de livros e arrebatam milhões em todo o mundo – resolvi hoje falar sobre o “mago da viola”: Renato de Andrade. Tenho falado bastante dele nos últimos dias e achei que já estava passando da hora de falar dele aqui.

Uns dizem que Renato ficou conhecido como “Mago da Viola” porque parecia ter mil dedos na hora de tocar – fato que fez esse mineiro de Abaeté ser reconhecido mundialmente como um dos gênios da música brasileira. Mas a história não pára por aí. Senta e escuta...

Diz que o Renato tinha um acordo com o “danado”, o “cujo”, o “mofino”, o “coisa ruim”... Aí uma vez perguntaram pra ele se a história era verdade. E ele, tinhoso que era, saiu com essa: contou que uma noite sonhou que estava no inferno. Ouviu de longe um som de viola. Foi ouvindo, ouvindo, seguindo aquele som... Quando não agüentava mais de curiosidade, perguntou para um capetinha que tava ali perto que ponteado rápido era aquele. E o capetinha respondeu: “é o satanás pelejando para imitar um tal de Renato Andrade". Verdade ou não, essa história está no encarte do CD A Viola e Minha Gente, que por acaso, traz a música Renato e o Satanás num ponteado rapidíssimo.

Todo violeiro se considera o melhor da região – não suportam a idéia da existência de outros tão bons quanto ele. Renato, que não era diferente, não confirmava, nem desmentia as histórias que contavam a seu respeito. O que é verdade mesmo na história do violeiro é que ele começou seus estudos musicais ainda moço – não com a viola, mas com um violino. Foi o primeiro a levar a viola caipira para as salas de concerto, inclusive nos Estados Unidos. E mesmo depois de meia década se dedicando à viola, dedilhava e estudava o instrumento que o fez tão conhecido todos os dias.

Parece até mais um causo, mas esse é verdade: Renato de Andrade foi – pelo menos até agora – o único violeiro capaz de tocar cinco mil notas por minuto. A rapidez dos seus dedos rendeu obras como “Formigueiro”, considerada entre as composições de Renato, a música de mais difícil execução. O jornalista Sérgio Gomes, estudioso da cultura caipira, explica que a música “Formigueiro” é inspirada em uma famosa peça clássica: “Ela é inspirada em Moto Perpetuo, de Paganini, um grande violinista italiano que criou esta obra exatamente pra mostrar a capacidade que ele tinha de realizar uma quantidade imensa de notas num mesmo compasso.” A rapidez de Renato Andrade na música Formigueiro chega a 15 notas por segundo!

O Mago da Viola, com seus casos e mil dedos, viajou fora do combinado no dia 30 de dezembro de 2005. Seu Manelim, outro violeiro mineiro dizia: "usa que serás mestre". Renato usou sua última violinha (teve mais de 30 durante toda a vida) até não poder mais. Onde ia, a viola ia junto. “Violão em todo lugar tem, mas viola não é assim”, dizia o violeiro. Renato foi mago, feiticeiro, violeiro... Cada um que o conheceu lhe dá um apelido diferente. Mas uma coisa ninguém discute, seu Manelim estava certo: Renato Andrade foi mesmo um mestre...

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