25 dezembro 2006

Natal não é data

Pronto, acabou o natal. A gente passa o mês inteiro correndo atrás dos presentes, preparando a ceia, esperando o especial do Roberto Carlos... E aí pronto, acabou.

Eu amo o natal. Não a data. Porque a data passa assim num piscar de olhos. Luiz Carlos de Castro Palma – mais conhecido como “Batata” – é jornalista e produtor rural em Altinópolis, interior de São Paulo. Li um artigo seu que dizia “natal não é data, é lugar”. Taí, concordo.

Quando eu era criança o natal começava bem antes do natal... Primeiro chegavam os tios e primos de longe – era o primeiro sinal. Logo depois lá estava minha avó no terreiro apartando os frangos da ceia. No curral já esperavam o boi e o carneiro que fariam a festa nos dias seguintes. Sim, dias. Porque a festa não se resumia na ceia. Ela começava antes e terminava bem depois...

O cheiro da festa infestava a casa toda. Prá todo lado tinha alguém cuidando de algum detalhe. Ai começava a revelação do amigo secreto - que reunia nossa família, os empregados da fazenda e os amigos que vinham comemorar com a gente.
No meio do terreiro uma mesa improvisada com dois cavaletes e tábuas, exibia a fartura do sítio...

De repente a gente ouvia um barulho – sempre eram as crianças que ouviam primeiro. E lá vinha o Papai Noel empurrando uma carriola cheia de presentes. Um dia achamos a roupa do Papai Noel no guarda-roupa da minha mãe. E o natal ficou ainda mais engraçado...

Depois da ceia, no dia seguinte, a chapa do fogão a lenha sempre quente esquentava o que havia sobrado. E a festa continuava, até o último convidado ir embora e sumir lá na frente, depois do mata-burro...

“Natal não é data, é lugar”. Deve ser mesmo.

O natal desse ano já está acabando e enquanto eu estou aqui, escrevendo mais dos milhares de artigos de natal que surgem nessa época, não me lembro de nenhum natal mais gostoso do que os passados nessa época da fazenda. Realmente não era o natal, era o lugar...

Prá terminar o natal desse ano então, aí vai a letra de “Calix Bento” – prometo falar das folias de reis depois!

Ó Deus salve o oratório
Ó Deus salve o oratório
Onde Deus fez a morada
Oiá, meu Deus, onde Deus fez a morada, oiá
Onde mora o calix bento
Onde mora o calix bento
E a hóstia consagrada
Óiá, meu Deus, e a hóstia consagrada, oiá

De Jessé nasceu a vara
De Jessé nasceu a vara
E da vara nasceu a flor
Oiá, meu Deus, da vara nasceu a flor, oiá
E da flor nasceu Maria
E da flor nasceu Maria
De Maria o Salvador
Oiá, meu Deus, de Maria o Salvador, oiá


Acima, foto de Sérgio Araújo no acervo do Museu da Casa do Pontal, no Rio de Janeiro/RJ

Nenhum comentário:

Postar um comentário