04 outubro 2011

Pingado com pão




Eu já tinha perdido a hora, o ônibus e estava quase perdendo a paciência quando começou a chover. Aí eu lembrei que tinha perdido também o café da manhã. Já que eu ia ter que esperar a chuva diminuir mesmo, entrei na primeira padoca que apareceu e pedi um pingado com pão na chapa. Era um gole e uma espiada na chuva. Um mordida no pão e uma olhada no relógio. "Tá atrasada, menina? Todo mundo vive atrasado, né?". Era a tia do café. Eu ia engolir e responder, mas não deu tempo. Ela já tinha ido servir outra pessoa.
A tia do café tinha razão. Espia só: um mês inteirinho passou e eu não consegui esticar a prosa aqui. Tá sobrando coisa prá contar, e por isso mesmo, faltando tempo prá escrever. Em setembro eu deixei tanta coisa "na espera" que é melhor nem lembrar. Aí tinha prometido que outubro ia ser diferente. Mas hoje já é dia 4 e eu comecei o mês de novo na correria, olhando para o relógio a cada cinco minutos.
Mas eu ia contando da chuva que não passava... Eu ainda estava na padaria matutando sobre tudo o que “não” ia dar tempo para fazer quando a tia do café voltou. Achei que devia retribuir o comentário dela: "Às vezes eu queria ter só uns cinco minutos a mais prá fazer uma ou outra coisa com calma, sabia?". Ela concordou com a cabeça, colocou "um dedo de café" num copo, bebeu e soltou essa: "Se você sabe quanto vale cinco minutos no seu dia, vai saber por que o seu coração bate, querida.” Falou e pronto, foi lavar os copos sujos de café que estavam na pia.
Uns 15 minutos depois a chuva ficou mais rala e uma hora depois eu consegui chegar ao trabalho. Ruminei o dia inteirinho aquela prosa com a tia do café. E aí eu me dei conta que não foi a chuva que me atrasou. Foram os "cinco minutos" que fizeram meu coração me levar na noite anterior até o outro lado da cidade. "Vai saber por que o seu coração bate..." Não é que a tia do café acertou?
Ia pensando nisso agora quando lembrei de uma moda do Renato Teixeira: "então vamos que o tempo tá passando e o melhor nessa vida é ir andando". A gente nunca sabe o que pode acontecer no dia de amanhã. E não adianta fazer planos porque basta chover no dia seguinte para mudar tudo. Mas se você consegue fazer valer (mesmo!) a pena pelo menos cinco minutos do seu dia (ou da sua vida inteira), a chuva, o ônibus atrasado, a pilha de coisas para terminar até o final do dia... Tudo isso fica mais fácil - ou menos difícil. É como diz o Teixeira: "uma vida inteirinha não é nada prá que gosta dessa jornada".


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PS: Se passar pela rua Peixoto Gomide, em Sampa, pare prá tomar um pingado e trocar dois dedo de prosa com a tia do café da padaria Nóbrega. Mesmo se não estiver chovendo, vale a pena! =)

4 comentários:

  1. Jeronimo Ferro04 outubro, 2011

    Pelo amor de Deus... vc foi fundo nessa... parabens... Como seu musico meu negocio é tocar... Deixo o escrever pra vc, amiga... Mas segura essa aqui... Umas 12h em plena 25, uma tia vendendo pano de prato acha ruim a pechincha da freguesa e solta: "vc acha q eu to aqui uma hora dessas fazendo graça pro capeta???" - isso tbm é Sampa,rsss...

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  2. Amiga, eu concordo com a tia do café... Cinco minutos vale muito... Toh com saudades enormes de vc!! Espero que tenhamos ao menos cinco minutos pra nós nesse fds!

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  3. Mestre dos Magos... Você é incrível!!!!! E não é só escrevendo não. Você é a criatura mais incrível que eu já conheci. Mó orgulho de ser o cara que toma vitamina do Divino com voce! Beijo!

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  4. dirlene aparecida freire30 outubro, 2011

    queria muito muitos 5 minutos com vc, mas pedi tanto que neste final de semana ganhei muitos 5 minutos com minha princesa, obrigada filha linda da minha vida, ti amo muuuuiiiiittttttoooooo. bj da mamãe

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