04 setembro 2007

Você já teve bicho de pé?

Eu já. E nem sei quantos porque da época em que era criança, só lembro dos meus pés calçados na escola e na igreja aos domingos. Até nas festa de família, assim que dava uma brechinha... pronto! Rapidinho a gente tirava aquela coisa apertada e deixava o pé respirar. Ficávamos descalços o dia inteiro e não me lembro (com exceção do danado do bicho de pé) de nada mais incomodando meus pés.

A gente conhecia de cor cada pedacinho do quintal, dos trieiros no meio do mato, os buracos de tatu no pasto. As vezes topava o dedão num canto, enfiava o pé num espinho, um estrepe na sola do calcanhar. Se doía? Claro que doía! Aí a gente sentava no chão, tirava o bendito sem cerimônia e continuava a caminhada. O dia terminava logo e meu Deus... a gente tinha muita coisa prá fazer, não podia ficar perdendo tempo com um machucadinho no pé não moço! É verdade que dava um trabalho danado na hora do banho. Mas valia a pena. Ô se valia...

Então tá, isso faz o que... 15, 20 anos? Não é tanto tempo assim vai? Mas olha como a gente "desaprende" as coisas fácil, fácil: outro dia fui matar a saudade do mato. Tratei logo de tirar o sapato prá sentir a terra passando no meio dos dedos, a grama escorregando na sola do pé, aquela sensação boa... Veja só isso: não é que logo de cara pisei num estrepe? E nem era grande não, uma coisinha de nada... Mas aquela coisa pequena doeu tanto que me fez andar de chinelo o resto do final de semana. E meu pé coitado, que agora fica fechado num sapato o dia inteiro, nem pode curtir direito...
Toda hora eu escuto alguém dizendo que o dia está cada vez mais curto, que a gente não tem tempo prá nada e que quando olha no relógio, já acabou o dia. O dia continua do mesmo tamanho meu povo! A gente é que fica parando no meio do caminho para cuidar de uns "espinhos" que nem são tão grandes assim. A parte boa mesmo que é "andar descalço", a gente nem aproveita. Também, fica dando atenção para o espinho... Vou te contar uma coisa: tem espinho no caminho inteirinho. E aí eu pergunto: você vai mesmo perder tempo com "mais um espinho" que apareceu? Claro, vai doer na hora. Mas, como dizia minha mãe, "antes de casar sara"...

Eu tô tentando aprender a andar descalço de novo. Depois que "desaprende" dá um trabalho aprender de novo... De vez em quando eu sinto uma espetada mas nem ligo, vou embora! Até que que já, já, nem sinto nada. E se você é daqueles que não anda descalço e nunca teve bicho de pé, meu amigo... não sabe o que tá perdendo!


Bicho de pé lembra infância. Então hoje vou aproveirar prá falar da dupla
Palavra Cantada: Sandra Peres e Paulo Tatit. Esses dois entedem de música, de Brasil e de criança - tudo coisa que eu gosto. Fazem música infantil mas, no final das contas, misturando poesia e brincadeira, acabaram agradando não só as crianças, mas também gente grande como eu!

Pé com Pé
Acordei com o pé esquerdo, calcei meu pé de pato
Chutei o pé da cama, botei o pé na estrada
Dei um pé de vento, caiu um pé d'água
Enfiei o pé na lama, perdi o pé de apoio
Agarrei num pé de planta, despenquei com pé descalço
Tomei pé da situação, tava tudo em pé de guerra
Pé com pé, pé com pé, pé contra pé
Não me leve ao pé da letra
Essa história não tem pé... nem cabeça. Vou dar no pé!

3 comentários:

  1. Vivemos em um mundo cada vez mais sem memória, e lembrar desse tempo não tão distante ajuda a colocar as coisas em perspectiva. Você está certa: quem mudou fomos nós, que acabamos complicando tudo!
    Um abração! =)
    (como é que eu não descobri esse blog antes?)

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  2. É que de tanto andar descalço, a gente cria um casco. Depois, o casco vai embora e fica aquela pelezinha delicada...

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  3. Infância...cada lembrança...
    o tempo não perdoa mesmo, ficamos mais velhos e muitas vezes esquecemos de pequenas coisas que dão um tom especial na nossa vida..

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